Rebekah Kenton
Os chakras são conexões entre o corpo físico e o psicológico. Estão situados na espinha dorsal, mas seus reflexos podem ser percebidos como discos rotativos diante do corpo. Existe uma vasta literatura disponível tratando em detalhe dos pontos exatos de sua localização física. Refiro-me especialmente ao Tantra Kundalini, de Swami Satyananda, sendo desse livro todas as citações aqui contidas.
Os aspectos físicos dos chakras têm muitas indicações para a saúde e a cura. Entretanto, do ponto de vista kabbalístico, torna-se mais interessante nos concentrarmos no aspecto psicológico e no que diz respeito à consciência. Dessa forma, os chakras podem ser vistos na Escada de Jacó e na Árvore da Vida ou Yezirática.
Existem sete chakras maiores conectados a outros menores por eles governados. Talvez seja por isso que haja tantas opiniões diferentes sobre o tema. Espero que relacionar os principais chakras ao esquema kabbalístico seja oportuno para esclarecer seus princípios implícitos.
Segundo a tradição, há chakras inferiores responsáveis pela evolução do instinto no reino animal, que já se encontram fora de atividade, ou em estado latente, nos seres humanos. No corpo animal, esses chakras inferiores estão situados nas pernas. Na Árvore podem ver-se como Malkhut. Diz-se, também, que há chakras superiores acima da Coroa, os quais podem ser vistos com diferentes níveis da Árvore Beriática. Pouco pode-se dizer a respeito deles, pois pertencem ao reino do sem forma.
Paradoxamente, o despertar dos chakras deve começar com o Ajna, ou Terceiro Olho, como o ponto mais elevado. Para ser capaz de lidar com o fenômeno psíquico que precede ao despertar dos chakras inferiores, é preciso possuir um certo grau de Sabedoria e Compreensão, bem como uma perspectiva filosófica e algum desapego.
O Chakra Muladhara (Fundação); Yesod:
“A palmara mula, em sátiscrito, significa “raiz ou fundação “, e é precisamente o que é esse chakra. O Muladhara está na base do sistema dos chakras e suas influências são a raiz de toda nossa existência. No Tantra, o Muladhara é o lugar da Kundalini, a base a partir doi qual surge uma maior compreensão. —
A mente ordinária do ego de Yesod maneja e conduz nossas vidas mais ou menos automaticamente. Não é senão até que a pessoa dê um passo em busca do desenvolvimento espiritual, que esse chakra desperta e suas funções se tornam conscientes, o que pode chegar a ser uma experiência dolorosa. ” 7ódas as paixões se guardam no Muladhara; toda a culpa, todos os complexos e toda a agonia têm como base o chakra do Muladhara. Para todos é sumamente importante despertar para esse chakra e sair dele. Nossos karmas inferiores se incrustam ali, como encarnações também inferiores, e, em consequência, nosso ser íntegro se baseia na personalidade sexual. ”
Dificilmente, o despertar de qualquer chakra é um acontecimento expontâneo. Pode levar vários anos ou vidas. Para deixar o Muladhara para traz , a pessoa tem que remover a barreira da ignorância, o egocentrismo, o apego aos prazeres físicos e aos objetos.
O Chakra Svaddhisthana (Sacro); Hod-Nezah:
Chegar ao Svaddhisthana quer dizer que a pessoa está começando a penetrar no umbral do inconsciente de Hod-nezah. Geralmente, em primeiro lugar devemos enfrentar as manifestações mais baixas; pode haver medo em excesso (Hod) ou fantasias sexuais (Nezah). ” Esta etapa da evolução é conhecida como Purgatório e, se lermos acerca das vidas de muitos dos grandes santos, encontraremos que a maioria deles enfrentou grande confusão e tentações quando a atravessou. ”
É interessante notar que, no simbolismo tradicional, o animal relacionado a Svaddhisthana é o crocodilo. É aqui que nos deparamos com o dragão, tal como se descreve na mitologia e nos contos de fadas. Em outras palavras, são os aspectos inconscientes da nossa psique que detêm nossa evolução.
O meio para avançar é continuar no Caminho da Honestidade. —Devemos ter despego, que é o resultado de uma análise cabal das situações da vida. Para ir alem de Svaddhisthana, precisamos melhorar o ambiente geral da nossa vida psico-emocional. ”
O Chakra Manipura (Umbigo ou Plexo Solar); Tiferet:
“Do mesmo modo que o sol irradia constantemente energia para os planetas, o chakra do Manipura irradia e distribui energia prânica ao longo da estrutura humana, regulando e dando energia à atividade de diferentes órgãos, sistemas e processos de vida. ” Uma disfunção do Manipura significa a falta de vitalidade, depressão e saúde ruim.
Isso é verdade em relação ao corpo físico e psicologicamente é o mais importante. Manipura ou Tiferet é o Ser, o ponto central da psique. “É o centro do dinamismo, da energia, da vontade e das conquistas, sendo,frequentemente comparado ao deslumbrante calor e poder do sol. ”
“Quando a consciência evolui até Manipura, se alcança uma perspectiva espiritual. ” Isso está relacionado com a posição de Tiferet como o Reino dos Céus. Em Muladhara e Svaddhisthana, a consciência está preocupada apenas com assuntos pessoais e resolvendo karmas; mas em Manipura, a pessoa começa a dar-se conta das possibilidades de converter-se verdadeiramente num ser humano.
Contudo, nesse nível a pessoa pode render-se ao dinheiro, ao sexo e ao poder, em vez de lutar pela verdade, a bondade e a beleza. As tentações se tornam mais sutis, enquanto se começa a desenvolver siddhis ou poderes psíquicos. O apego a tais poderes com frequência nos faz crer que ‘já chegamos”, bloqueando assim um desenvolvimento posterior.
O Chakra Anahata (Coração); Gevurah-Hesed:
O Anahata opera no nível da alma e se relaciona simbolicamente com o despertar do coração. É importante lembrar a advertência sobre a barreira: “O segundo nó psíquico se localiza nesse centro cardíaco. Representa a escravidão do apego emocional, a tendência a viver a vida tomando decisões sob aforça das emoções, em vez de faze-loà luz do trabalho espiritual. ”
O despertar desse chakra é a chave do destino e do livre-arbítrio. “0 chakra Anahata está quase por completo mais alem da dimensão empírica. Dependemos unicamente do poder da própria consciência, mais do que em algo externo ou concernente â fé. No chakra Anahata, está a liberdade de escapara uma sitia preestabelecida e determinar o próprio destino se converte em realidade. ” Por isso se diz que nesse chakra há uma árvore que atende a todos os desejos. Isso nos leva a observar que o despertar de um chakra segue o padrão do Raio Luminoso da Árvore. Em Anahata as tendências negativas de Gavurah geralmente sobem primeiro à superfície, como o medo e as atitudes pessimistas acerca da vida. A pessoa tem que recordar o poder do atendimento dos desejos desse nível para não manifestar desejos negativos. “É importante ter um controle firme e alerta sobre as tendências mentais e as fantasias da mente. ”
Para podes avançar, necessitamos cultivar as qualidades de Hesed. É essencial pensar positivamente. Também pode ajudar a desfrutar ao máximo das artes. “0 chakra Anahata desperta a emoção refinada no cérebro, e esse despertar se caracteriza por um sentimento universal e ilimitado de amor por todos os seres. ”
O Chakra Vishuddha (Garganta); Daat:
Alem de que Vishuddha no tantra é descrito como o vazio, contém ainda o aspecto do conhecimento, da mesma forma que na Kabbalah. “0 aspecto mais abstrato de Vishuddha é a faculdade de uma alta discriminação. Dessa forma, qualquer comunicação recebida por telepatia pode ser examinada aqui para verificar sua exatidão e sua precisão. De igual modo, Vishuddha nos permite diferenciar entre a compreensão que chega à nossa consciência a partir de níveis superiores de conhecimento, e o simples falatório de nossa mente inconsciente e nossas ilusões.
Vishuddha é ainda conhecido como o néctar e o centro letal. Em termos mais familiares, isso poderia significar “morte e transformação”. O néctar é o fluido transcendental, o “Orvalho Celestial”. “Enquanto o chakra Vishuddha permanece inativo, esse fluido corre para baixo sem impedimento, para ser consumido pelo fogo de Manipura, resultando na deterioração, na degeneração e, finalmente na morte dos tecidos do corpo. Quando Vishuddha é despertado, ofluído divino é retido e utilizado, transformando-se no néctar da imortalidade. O segredo da juventude e a regeneração do corpo estão no despertar do chakra Vishuddha.
Vishuddha é também a chave para a regeneração psicológica. “No nível de [,”ishllddha, e mais acima, ainda os aspectos letais e negativos da existência se integram no esquema total do ser. São interpretados como conceitos que não têm poder sobre o bem e o mal, que desaparecem. Nessa etapa de consciência, os aspectos letais e as experiências da vida são abson~ido.s e se transformam em um estado de bem-aventurança. ”
Interconectado com Vishuddha, está o chakra Bindu Visarga. Muito pouco se sabe ou se escreveu acerca dele, já que se encontra mais adiante do reino de toda a experiência convencional. Na Escada de Jacó se relaciona ao Yesod de Beriah, que precede aao Daat de Yezirah. “Bindil é um portal aberto em ambas as direções” Diz-se que é a origem da individualidade manifestada. “A partir desse ponto ou semente, um objeto, um animal, um ser humano ou o que seja, pode surgire manifestar-se. Aquilo que previamente era informe, toma forma através de Bindu, nele também se fixando a sua natureza. ”
O Chakra Ajna (O Terceiro Olho); Binah-Hokhmah:
Ajna é o chakra do intelecto superior. “Ajna é o ponto central onde nos convertemos no observador independente de todos os acontecimentos, inclusive aqueles dentro do corpo e da mente. Aqui se desenvolve o nível do conhecimento, e é por seu intermédio que a pessoa começa a “ver” a essência escondida por detrás de todas as aparências. Quando o Ajna é despertado, o significado e o conhecimento intuitivo aparecem sem esforço.
“Até que o chakra Ajna desperte, estamos sob a influência das desilusões. Somente depois do despertar do Ajna é que as leis de causa e efeito podem ser conhecidas. Dali em diante, mudam toda a atitude filosófica e o enfoque da vida. ” Como foi dito, é muito importante desenvolver as qualidades de Binah e Hokhmah, presentes no próprio começo da viagem espiritual “Só aqueles que têm razão e compreensão serão capazes de seguir adiante. ”
Supõe-se que o despertar do chakra Ajna tem a mesma sequência do Raio Luminoso, ativando primeiro o aspecto de Binah e logo o de Hokhmah, nesse nível. Diz-se que a partir de Ajna existe somente um curto caminho para a Sahashara, ou iluminação; a partir de Hokhmah poderíamos ver como chegar ali.
O Chakra Sahashara (Coroa); Keter:
Verdadeiramente, o Sahashara não é considerado como um chakra; é a fonte de todos os chakras. “T a coroa da consciência expandida. O poder dos chakras não reside neles mesmos, mas em Sahashara. Os chakras são meros interruptores. Todo o potencial está concentrado em Sahashara. ”
Patanjali classifica-o como Samadhi, ou iluminação, em três etapas diferentes. Isso corresponderia à posição de Keter de Yezirah na Escada de Jacó, interpenetrando o Tiferet de Beriah e o Malkhut de Aziluth. “Sahashara é tanto informe quanto com forma; contudo, também está mais adiante e, por isso, a forma não o atinge. ”
Existem muitas descrições acerca da iluminação, mas, efetivamente não é possível definir tal experiência. “Uma consciência supra-mental não é um lugar, mas um processo, uma cadeia de experiências. Samadhi não é um ponto particular de experiência, mas uma sequência de experiências que avançam de uma etapa a outra. ”
No curso do desenvolvimento pessoal, os chakras podem ser parcial ou temporalmente despertados. Também podem despertar independentemente de cada um, e não obedecer necessariamente a sequência tradicional. Na Kabbalah, um indivíduo cujos chakras tenham sido total e permanentemente despertados, seria chamado de Messias.
( Traduzido da versão espanhola por Danilo G. Negócio)
© Rebekah Kenton